Ilustração por Diego Rosendo
Caiu na Rede
Clicou. O obturador abriu e fechou com um barulho ligeiramente incômodo.
Um som que lembrava o mecanismo que aciona uma armadilha.
Num instante a carne virou pixel, o que era toque virou touch e dezesseis anos foram transformados por dezesseis megapixels.
O calor de seu corpo rivalizava com o calor do aparelho.
A princípio a vontade era de deletar, expurgar a imagem como quem se livra de um pecado. Mas apagando-a o desejo não iria junto. Ele permaneceria, e isso era do que ela mais queria se livrar.
Além do mais, ela sabia exatamente quem estava do outro lado.
Não havia dúvida, era ele. E como poderia questionar? Quem ama confia.
As mensagens não paravam de chegar, repetidas, soando como um coro em uníssono, mas no lugar de vozes, bipes.
Para não chamar atenção ela o silenciou, foi pior. A tentativa de calar o aparelho gerou ainda mais excitação e o celular agora gemia incontrolável.
No meio de tanta informação ela tentava organizar os pensamentos, em vão.
O que o cérebro humano tenta organizar, a natureza insiste em desorganizar.
Para cada “Porquê”, um hormônio.
Para cada “Será”, um fluido.
O botão de enviar parecia argumentar, implorar para ser usado.
Irresistível, assim como o desejo. Clicou.